06 outubro 2010

Loki e o construtor do muro

Durante muitos anos, os deuses viveram junto com os mortais até que um dia Odin, o maior dos deuses, teve a idéia de construir Asgard, a sua morada celestial. Era preciso que os deuses tivessem um local só para si, resguardado dos ataques dos seus terríveis inimigos, os Gigantes. Nem bem, porém, haviam terminado de construir a cidade, depararam-se todos com um grande problema: é que, na  pressa, esqueceram de construir também uma sólida muralha para se proteger  de um eventual ataque de seus pérfidos inimigos.

Odin e Loki estavam conversando sobre o assunto, tendo ao lado outros deuses como Tyr e Heindall, quando, de repente, viram passar perto um cavaleiro.

"Uma bela construção a que fizeram...!" - disse ele admirando a arquitetura da divina cidade. - "Mas, onde está o muro que deveria protegê-lo?

Os deuses constrangidos, foram obrigados a confessar que haviam esquecido essa parte.

"Ora, mas isto não é problema!" - disse o forasteiro.  -" Sou o mais hábil construtor do mundo e posso erguer um belo e fortificado muro, se assim desejarem."

Um sorriso de satisfação iluminou a barba ruiva de Odin. Loki, também satisfeito, acenou para o homem e disse: " E quanto tempo levará para terminá-lo?"
" Um ano e meio estará perfeito e acabado. " - respondeu o homem
" Muito bem, pode começá-lo imediatamente!" - disse Loki, aplaudindo o construtor.
"Esperem!"  - Bradou Odin, interrompendo tudo.-  "O senhor disse que é o melhor construtor de todo o mundo, não é?"
"Sim, honro-me em sê-lo!"
"E, o que pede para realizar a sua tarefa?" - Quis saber o deus supremo, já imaginando que o hábil construtor não pediria pouco.
"Quero a mão da bela Idun em casamento" - disse o outro, confirmando as mais negras previsões do maior dos deuses.

Idum era a deusa da juventude e cuidava do pomar onde brotavam as maçãs da juventude, graças às quais os deuses permaneciam sempre jovens e saudáveis.

"Ora desapareça daqui!"  - disse Tyr, o mais valente dos deuses, brandindo o seu punho para o atrevido.

Heindall, o guardião  da ponte Bifrost, que conduzia a Asgard, como não podia falar, protestou tocando  sua corneta tão alto no ouvido do estrangeiro, que o construtor sofreu um sobressalto  e precisou  de alguns minutos para recuperar inteiramente a audução. Quando aos demais deuses, já iam todos dando as costas, incluindo Odin, quando ouviram Loki dizer ao atrevido forasteiro:

"Muito bem, se puder construir em seis meses, o negócio está fechado!"
Todos os rostos voltaram-se, alarmados, para o imprevisivel deus.
" Imporemos apenas a condiçaõ de que realize sozinho a sua tarefa e no espaço um único inverno" - disse ainda Loki, sem  se importar com as censuras que faiscavam no olhar de seus colegas. Para esses disse à boca pequena: " Não se preocupem: em seis meses, ele não terá construído nem a metade do muro, o que  o obrigará a nos entregar de graça!"

"Trato feito!" - diss e o construtor, que pareceu muito satisfeito com a proposta. No mesmo instante, desceu do seu cavalo Scandilfair e meteu mãos à obra. Acoplando um trenó à cauda do cavalo, ele começou a empilhar e arrastar enormes pedregulhos pela neve com tanta vontade e determinação, que todos os deuses empalhideceram, menos Loki, que olhava para o homem com um sorriso irônico.
"Não se aflija, bela Idum!" - disse ele a infeliz deusa, que vertia pelos olhos pequeninas lágrimas douradas. - "São fanfarronices do primeiro dia; amanhã, ele já estará exausto e jamais conseguirá terminar o muro dentro do prazo estipulado!"

Mas, no segundo dia, o rítmo não diminuiu; na verdade, aumentou e, ao fim do primeiro mês o estrangeiro já havia construido um bom pedaço, grande o bastante para deixar em pé os cabelos de Odin.

"Loki, seu idiota...!" - dise ele, chamando o responsável pelo iminente desastre. - "se a coisa for neste passo, antes dos seis meses ele terá concluído o maldito muro e perderemos Idun e as maçãs da juventude! Não lhe passou pela cabeça que esse construtor pode ser um gigante disfarçado a tramar a nossa destruição?" - Indagou Odin a Loki, que coçava a cabeça, com um ar culpado.

Idun, por sua vez, observava noite e dia, com desolação, a movimentação do construtor e a cada pedra que ele depositava a mais sobre o muro, era um golpe cavo que soava em seu peito.  Seus olhos estavam sempre postos sobre as costas suadas do infatigável construtor e de seu portentoso cavalo que arrastava no trenó, sem um minuto de descanso, os grandes pedregulhos.

O tempo passou e faltavam agora somente cinco dias para a chegada  do verão e um pequeno trecho para   que o muro estivesse concluido.  Odin fez um sinal para que Heindall fizesse soar a sua trompa, convocando os deuses para uma reunião de emergência.

" E agora, seu tratante?" - disse Odin, tão logo avistou Loki adentrar o salão. "Já que foi esperto o bastante para nos meter nesta enrascada, trate de arrumar um jeito de nos tirar dela, caso contrário, você irá para o sombrio Niflhein, onde sofrerá torturas tão crueis que nem mesmo a sua filha Hel o reconhecerá!"

"verei o que posso fazer, poderoso Odin" - disse Loki, o qual, se era imprevidente a ponto de se meter a todo instante em enrascadas, não era menos hábil em se safar destas mesmas situações.

Loki internou-se numa grande floresta e, naquela mesma noite, enquanto o construtor trabalhava com a ajuda de seu cavalo, ele retornou de lá transformado em numa belíssima égua branca. Postando-se diante do cavalo do construtor, a égua começou a relinchar melodiosamente (tanto quanto um equino possa ter alguma melodia), o que fez com que Svaldilfair arrebentasse os freios que o mantinham preso ao trenó e seguisse a égua floresta adentro.
"Ei , espere, aonde vai?" - gritou o construtor, espantado.

O cavalo, entretanto, lançara-se numa corrida tão desenfreada que, por mais que seu dono tentasse alcança-lo, não pôde fazê-lo. Depois de descansar um pouco e refletir o construtor farejou naquilo o dedo de Loki.
"É claro" - exclamou  furioso. - "Tão certo quanto sou um gigante disfarçado de construtor, esta égua não passa do maldito Loki disfarçado!"

O gigante, então, vendo que não conseguiria terminar o muro sem o auxílio de seu prodigioso cavalo, resolveu reassumir a sua forma natural para tentar completar a tarefa.
Odin, contudo, que a tudo assistia de seu trono, exclamou tomado pela ira: "Tal como eu imaginava: o tal construtor não passa, na verdade, de um maldito gigante! ... Ótimo, pois com isto fico também desobrigado de meu juramento!"  - Odin suspendeu no ar a mão que alimentava  seus dois lobos, Geri e Freki, e ordenou, imediatamente, que um servidor fosse chamar seu filho Thor.

"Thor, preciso que, mais uma vez, faça uso de seu martelo Miollnir para derrotar este gigante  impostor!" - disse Odin, depositando todas as esperanças em seu valente filho.

Thor não esperou segunda ordem: empunhando seu martelo e afivelando bem a cintura o seu cinto de força, foi até o gigante, que empilhava, freneticamente, imensos pedregulhos  no afã de terminar logo a sua tarefa. O rio  de suor, que lhe escorria dos membros, fizera com que a neve ao seu redor tivesse derretido toda.

"ora, vejam...!"  - disse Thor, ao se aproximar dele - "O pequeno construtor virou, então, de uma hora para a outra, um gigante atarefado?"
"Fique longe de mim!" - disse  o outro, carregando em desespero a última pedra que faltava para completar o muro.

Porém, antes que tivesse tempo de colocá-la sobre o último vão do muro, Thor arremessou seu martelo com tal força e velocidade, que a cabeça do gigante se esmigalhou inteira.
"Aí está patife, o seu pagamento" - disse o deus, recolhendo Miollnir.
O gigante teve, logo em seguida o restante de seu corpo jogado nos gelos eternos de Niflheim.
"E então, tudo correu bem?" - perguntou Odin tendo a seu lado Idun
"já deve estar construindo seus muros  na terrível morada de Hel!" - disse Thor enquanto retirava sua pesada luva de ferro.

Todos os deuses regozijaram-se com uma grande fresta, aliviados que estavam pela derrota do gigante. Entretanto, em meio a ela, alguém perguntou:
"E Loki? Que fim levou espertalhão?"
De fato Loki havia desaparecido de Asgard desde o instante em que entrara na floresta com o garanhão do gigante. Durante muito  tempo, ninguém ouviu falar dele até que um belo dia, ressurgiu, trazendo um belíssimo e prodigioso cavalo negro de oito patas.

"Ora, viva! Finalmente, reapareceu! - exclamou Odin, que, no entanto, parecia mais interessado no cavalo que no deus desaparecido.

"Apresento a vocês Sleipnir, o cavalo mais veloz do universo!" disse Loki, todo sorridente.
Loki por mais incrível que possa parecer, tornara-se pai de um cavalo; mas, para quem já havia sido anteriormente pai de um lobo e de uma serpente, não havia nisto nada de surpreendente. Entretanto, percebendo que Odin apaixonara-se perdidamente pelo cavalo, tratou logo de lhe dar o animal de presente na esperança de fazer com que esquecesse, rapidamente, de suas trapalhadas.

E foi assim que Odin se tornou dono do cavalo mais veloz do universo.

Um comentário:

  1. Muito legal Aninha =D
    Mas só uma coisinha... se o Loki tinha se transformado em égua, ele era a mãe do cavalo LOL, e eu nem quero imaginar a cena O.O

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