05 outubro 2010

A História do Chá

No tempo antigo, o chá não era conhecido fora da China. Notícias de sua existência tinham chegado aos sábios e ignorantes de outros países, e cada qual tratava de investigar o que era, de acordo com o que queriam ou com o que pensavam que fosse.

O rei de um país enviou um embaixador com sua comitiva à China, e o imperador chinês lhes ofereceu chá. Porém ao verem que os camponeses também o bebiam, chegaram a conclusão  de que não era digno de seu real amo e, além disso, acharam que o imperador chinês estava tentando enganá-los, fazendo outra substancia passar pela bebida celestial de que tanto tinham ouvido falar.

O maior filósofo de um outro país reuniu toda a informação que pôde encontrar sobre o chá e chegou à conclusão de que devia ser uma substância que raramente se encontrava e que era diferente das que até então eram conhecidas. Pois não se referiam a ela como uma erva? Um líquido verde, negro, às vezes amargo e às vezes doce?
Em alguns países, durante séculos, as pessoas provaram todas as ervas que conseguiam encontrar. Muitos ficavam envenenados e todos estavam desiludidos, pois ninguém tinha levado a planta do chá às suas terras e, por isso, não podiam encontrá-la. Também beberam, inutilmente, todos os líquidos que conseguiam encontrar.

Em determinado território, um saquinho de chá era levado em procissão diante do público enquanto as pessoas caminhavam rumo a suas obrigações religiosas. Ninguém pensava em prová-lo. Na verdade, ninguém sabia como prepará-lo; todos estavam convencidos de que o chá, por si só, tinha uma qualidade mágica.
 "Derramem água fervente sobre ele, homens ignorantes" - disse-lhes um homem sábio.
Rapidamente o penduraram e pregaram no alto porque, de acordo com suas crenças, fazer aquilo levaria a destruição do seu chá. E isso mostrava, pelo menos para sua própria satisfação, que o homem era um inimigo de sua fé.
No entanto, alguns deles, que haviam escutado o que o homem dissera antes de morrer, conseguiram um pouco de chá e o bebiam em segredo. Quando alguém lhes perguntava  - "Que estão bebendo?"  - respondiam - "É apenas um remédio que tomamos para certa doença".

Assim acontecia no mundo todo. Algumas pessoas tinham visto o chá crescer e não o reconheciam. Tinha sido dado a outras para beber, mas elas acharam que era bebida de gente comum. Tinha estado em poder de outras, que veneravam o chá e também seu recipiente. Fora da China, apenas umas poucas pessoas o bebiam, e só as escondidas. 

Foi então que chegou um homem de conhecimento profundo e disse aos vendedores de chá. aos que bebiam chá e às demais pessoas:

"Aquele que prova, sabe. Aquele que não prova, não sabe. Em vez de falar sobre a bebida celestial, não digam nada. Simplesmente ofereçam-na a seus convidados. Os que gostarem pedirão mais; os que não gostarem, mostrarão que não estão inclinados a ser bebedores de chá. Fechem a tenda da discussão e do mistério. Abram a casa de chá da experiência.

Depois disso o chá foi levado  de um ponto a outro da rota da seda, e sempre que um mercador de jade, ou de pedras preciosas , ou seda, parava para descansar, fazia chá e o oferecia a quem estivesse por perto, quer conhecesse ou não o chá. Este foi o começo das Chaikhanas, casas de chá que surgiram por todo o caminho, desde Pequim até Bocara e Samarcanda. Todos que provavam, sabiam.


Observe que, bem no início, eram só os poderosos e os que pretendiam ser homens de conhecimento que buscavam a bebida celestial, e que também diziam: "Mas isto não passa de folhas secas", ou: "Por que fervem água, quando tudo que quero é a bebida celestial?", "Como posso saber que é isto? Provem-me", "Além do mais, o líquido não tem cor de ouro, é ocre".

Quando, por fim, se soube a verdade, e quando se trouxe chá para que todos os que quisessem o provassem, os papéis mudaram, e os únicos que diziam coisa sue havia sido dita pelos poderosos e os inteligentes eram os idiotas consumados. E assim acontece até hoje.

Autor desconhecido.

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